História e Padroeiros

  A devoção ao Senhor do Bonfim em Planalto - Breve histórico
Foto: Andor do Senhor do Bonfim, janeiro 2017.
“o culto a Jesus crucificado, Senhor do Bonfim, propagou-se e tomou vulto. Grandes romarias, desde então, sucederam-se com freqüência e as notícias de graças e milagres alcançados, corriam por todo Brasil. O Senhor do Bonfim ia aos poucos concentrando a piedade e o fervor do povo baiano que passou admirá-lo como seu grande protetor”. (Dizeres do Dr. José Eduardo Freire de Carvalho Filho, tesoureiro da Devoção de 1884 a 1934, dedicado estudioso da história da instituição.

O Senhor do Bonfim é uma figuração de Jesus Cristo em que este é venerado na visão de sua crucificação. Sua devoção se espalhou e tomou grandes proporções. Ele é hoje o padroeiro de coração dos baianos. Inúmeras são as paróquias que adotam o Senhor do Bonfim por padroeiro, como por exemplo, Planalto. Nesta, tal devoção popular já existe há muito tempo.
Em Planalto, segundo fontes orais, a devoção inicial era ao Senhor Bom Jesus. Com relação a tal devoção, a Revista “Em estado permanente de missão”, 2015, afirma que por volta de 1940 já era muito presente entre os moradores da localidade.
Precisar o momento exato em que o culto ao Senhor Bom Jesus, na cidade de Planalto, é “transferido” para a figura do Senhor do Bonfim ainda é incerto. Sabemos, pois, que algo assim é fruto de um processo histórico, e, por isso, gradativo e com diversas possibilidades de explicação.
Crucifixo da Igreja Matriz do Senhor do Bonfim
Planalto-BA
Atualmente, a narrativa mais conhecida acerca da história da devoção ao Senhor do Bonfim em Planalto, afirma, a partir de alguns relatos, que essa devoção ao Bom Jesus começou a mudar quando, num dia festivo, um grande número de pessoas foi, em procissão, esperar a chegada da imagem do Senhor do Bonfim trazida de Salvador pelo casal D. Neném e o senhor João Guimarães. Tal fato, de acordo com essa narrativa, pode ser visto como simbólico “início” da devoção ao Senhor do Bonfim, que posteriormente, em 1962, tornou-se padroeiro da comunidade após a emancipação política da cidade de Planalto.
Envolvidas por uma memória de fé e devoção, as primeiras novenas foram realizadas com diversas orações, tais como: ladainhas cantadas, “rezas”, benditos, entre outras. A missa acontecia apenas no último dia, quando, oportunamente, o padre também celebrava casamentos, batizados, crismas, consagrações e a procissão de encerramento. Essa festa reunia todas as famílias e era comum a realização de quermesses onde todos confraternizavam.
Nesse contexto surgiu a tradição da Chegada das Bandeiras, representada por cavaleiros que divididos entre bandeiras brancas e bandeiras vermelhas (que simbolizavam a caatinga e a mata) acompanhavam o estandarte do Senhor do Bonfim que seguia à frente.
Procissão do Senhor do Bonfim, 2017, Planalto-BA
Em 12 de outubro de 1969, por meio do Decreto n° 02/69, Dom Climério, Bispo de Vitória da Conquista, considerando fatores como, por exemplo, a extensão territorial da cidade de Planalto, bem como o número de pessoas que residiam ali, resolveu criar no município a Paróquia Senhor do Bonfim e Santa Rita, desmembrando-a da Paróquia de Poções. Nesse ensejo, nomeou o padre Francisco de Paulo Licarião como primeiro pároco da comunidade.
Assim, a devoção ao Senhor do Bonfim foi crescendo e integrando o ciclo de festividades cívico-religiosas de Planalto. A cada ano renovam-se tanto a fé no Bonfim quanto a presença e participação de novos fiéis nas novenas, na procissão, nos eventos e na continuidade dos festejos que ocorrem na parte externa da Igreja.
A novena, além de uma “ação de graça mais intensa”, é também muito conhecida porque faz parte do catolicismo popular. Em Planalto é muito comum e também tradicional a realização delas. Fazem parte da realidade da paróquia desde o princípio. A história dessa manifestação religiosa na comunidade de fé planaltense, inclusive, se confunde com a própria história do município: os fiéis católicos, desde a emancipação política da cidade (1962), e mesmo antes, já realizavam novenários tanto em devoção a Santa Rita quanto ao Senhor do Bonfim.
De acordo com a revista “Em estado permanente de missão”, a primeira novena em devoção a Santa Rita de Cássia ocorreu em 22 de maio de 1959. Ainda baseado na revista, bem como em fontes orais, já estamos na 58ª edição do novenário de Santa Rita de Cássia, e, na 48ª da festa do Senhor do Bonfim, esta, celebrada desde outubro de 1969.

O hino
        
Uma das características da devoção ao Senhor do Bonfim na Bahia é o seu hino. Ele é mais conhecido que o Hino do Estado, sendo muitas vezes confundido com este. Cantado por Caetano Veloso no álbum “Tropicália”, o hino cívico tornou-se uma canção ainda mais popular e conhecida.
Em alguns lugares onde o Senhor do Bonfim é padroeiro, a versão original do hino foi mantida. Já em outros, parte da letra foi adaptada a fim de que a canção ficasse mais “próxima” da realidade dos fiéis. Em Planalto, durante os primeiros anos de Paróquia, era cantada a versão original do hino. Foi no período do padre Tobias Patriota (1985-1992) que o hino do Senhor do Bonfim foi adaptado. De acordo com alguns relatos, o próprio padre foi quem apresentou a versão cantada nos novenários até hoje.
Presbitério da Igreja Matriz Sr. do Bonfim
O padre Tobias Patriota, ao assumir a paróquia, apresentou a nova versão do hino, com algumas adaptações, mas respeitando sua melodia, estrutura dos versos e alguns outros aspectos da canção original.
Antes de assumir a Paróquia de Planalto, o padre já havia passado por outra, cujo padroeiro também era o Senhor do Bonfim. Provavelmente essa experiência anterior o deixou mais confortável para apresentar as modificações do hino à comunidade planaltense. Isso fez com que a canção se tornasse ainda mais popular e querida por todas as pessoas.

Hino do Senhor do Bonfim (Planalto)

Glória a ti neste dia de Glória
Glória a ti meu Jesus redentor
que teu povo conduzes à vitória
pelos campos e cidades de Planalto.

Desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a Graça Divina
da justiça e da concórdia

Aos teus pés que nos deste o direito
aos teus pés que nos deste a verdade
canta e exulta no férvido peito
alma em festa de tua cidade

Desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a Graça Divina
da justiça e da concórdia

Para um povo que luta todo dia
te louvando na sua alegria
e suplica em preces de dor
sempre abre teu seio de amor

Desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a Graça Divina
da justiça e da concórdia

Planalto, uma comunidade de fé.

Praça da Igreja Matriz Sr. do Bonfim, Planalto-BA
         
Uma comunidade de fé são os cristãos unidos entre si pela causa de Cristo. A fé é justamente a força do cristão que, quando manifestada conjuntamente dentro da comunidade, tendo em vista o bem comum, dignifica a presença de Deus que ali se traduz.
A paróquia de Planalto, a nossa comunidade de fé, surgiu a partir desses fundamentos. Nasceu primeiramente nos planos de Deus e depois foi se constituindo a partir da disposição, generosidade e ardor missionário dos fiéis. A Palavra nos assegura que se nos unirmos “sobre a terra para pedir, seja o que for” (Cf. Mt. 18, 19) conseguiremos, pois Deus nos concederá. E essa verdade se tornou mais uma vez realidade quando em 1969, “atendendo às necessidades dos fiéis” (Cf, Decreto nº 02\69), a Paróquia do Senhor do Bonfim e Santa Rita foi criada.
Desde então, ela tem se mantido firme e sempre em movimento. Isso graças aos fiéis que em virtude do Batismo e da Confirmação, têm honrado a missão que receberam, mas também, de modo muito especial, aos “operários da messe” que o bom Deus nos enviou e ainda nos envia para pastorear o seu rebanho: os padres. Esses homens que, constituídos nesse lugar, viveram e vive em nossa comunidade como sinal de Cristo: ouvindo, orientando, reunindo, transmitindo a Palavra, enfim, merecem ser lembrados, pois dedicaram e continuam dedicando suas vidas em favor da Missão de Deus. Por isso, também fazem parte dessa história.
Ao longo desses 48 anos de Paróquia tivemos a grata oportunidade de conviver com nove sacerdotes que marcaram profundamente nossa comunidade. São eles:

1969\1982 - MONSENHOR FRANCISCO DE PAULO LICARIÃO
1982\1985 – PADRE JOSÉ MESSIAS DO NASCIMENTO
1985\1992 – PADRE TOBIAS PATRIOTA FEITOSA
1993\1998 – PADRE GILDEIR SILVA SANTOS
1998\2001 – PADRE ESTEVAM SANTOS FILHO
2001\2006 – PADRE JOSELITO CRUZ
2006\2011 – PADRE JOSUÉ ANDRADE
2012\2016 – PADRE IRINEU MOREIRA MEIRA
Atualmente – PADRE MAIRTON MARQUES DO AMARAL SALES 

Texto: Jorge Cleiton Silva Souza

Referências:

Revista "Em Estado Permanente de Missão", 2015, Bahia: Planalto.

Festa do Bonfim: a maior manifestação religiosa popular da Bahia. (Dossiê produzido pelo IPHAN).

AZEVEDO, Maíra. Hino Oficial do Senhor do Bonfim é pouco conhecido

Senhor do Bonfim, o Santo Guerreiro. Disponível em: http://osheroisdobrasil.com.br/variedades/curiosidades/senhor-do-bonfim-o-santo-guerreiro/#_ftnref2. Acesso em: 15 jan. 2017.

Fontes orais: Depoimentos de membros da comunidade.


Devoção a Santa Rita de Cássia
Andor de Santa Rita, Novena, 2017, Planalto-BA

Falar da caminhada de fé da comunidade planaltense, que originalmente pertencia à Paróquia do Divino Espírito Santo, município de Poções – Bahia, inclui trazer à memória a colaboração fundamental de dois líderes da Igreja: os Padres Alberto Carneiro e Honorato Nascimento, que deram os primeiros passos de evangelização nessas terras. Na época em que essa região era apenas constituída de fazendas, os párocos de Poções atendiam os fiéis nas casas dos fazendeiros, visitando e reunindo a população da zona rural. Portanto, a esses servos de Deus devem-se as primeiras sementes da evangelização dos mais antigos moradores de Planalto.
Na década de 40, aos poucos, foi aumentando o numero de famílias residentes nessa região, que era caminho de tropeiros, o que resultou na fundação do Arraial de Peri-Peri, no ano de 1946, pelo então Prefeito de Poções Dr. Fernando Costa. O arraial foi crescendo e despertando nos fiéis católicos a necessidade de construir uma Capela, onde pudessem louvar o nome do Senhor e dar continuidade à evangelização. O que era sonho começou a se tornar realidade quando os moradores, D. Valdemira Gomes (D. Mira), D. Nenên e João Guimarães, juntamente com um grupo de pessoas com o mesmo sonho começaram a mobilizar a comunidade com pedidos de doações de material e terreno.
Imagem de Santa Rita de Cássia,
Igreja de Santa Rita,
Planalto-BA

Nessa época, o Posto Esso já pertencia ao segundo proprietário, João Guimarães, que doou o terreno ao lado, para a construção de uma capela. No arraial, já havia muitos devotos de Bom Jesus, padroeiro da Vila de Campos Sales, atual Distrito de Lucaia, o centro comercial mais importante de Peri-peri, razão pela qual os comerciantes passavam por essa então fazenda e iam comercializar em Campos Sales.
Até então, as celebrações em homenagem ao Senhor Bom Jesus aconteciam na atual Praça Duque de Caxias, num salão que era chamado de barracão.
Com o terreno doado, começaram as visitas às fazendas e cidades vizinhas, a organização de festa, concurso de rainhas, leilões e pedidos de doação à comunidade, por meio de autofalante que ficava no Posto Esso, com o objetivo de construir a sonhadora Igreja e, acima de tudo, dar continuidade ao projeto de Deus.
Procissão de Santa Rita, maio de 2017
Procissão de Santa Rita, maio de 2017

Finalmente, a primeira capela de Peri-Peri foi construída no ano 1952, por profissionais sob a liderança do Pedreiro Joaquim Ferreira de Almeida, conhecido como Joaquim de Miligido (1914-2001), residente em Poções. A construção contou com a participação da comunidade local, a exemplo do Sr. Balduíno Pimentel, que carregou no carro de boi toda a madeira para o telhado. Permaneceu inacabada por alguns anos, mas mesmo no piso grosso, as celebrações, novenas, casamentos, começaram a ser realizados, registrando o primeiro casamento em 1953, do casal Vivaldo Botelho e Vicença.
Concluída a capela, podia-se admirar a beleza do altar cor de prata, enfeitado com flores, velas e o crucifixo, tendo ao lado a imagem de Nossa Senhora Aparecida, doada pela devota Maria Padre. As novenas em louvor ao Senhor Bom Jesus ainda aconteceram na capela pelo menos até 1959, quando começou a devoção a Santa Rita de Cássia.
Com a motivação de Maria José Gomes (D. Zezé), de Ribeira do Pombal, arraial de Boa Hora, norte da Bahia e terra de seu marido, Vicente Costa, nasce então de Santa Rita de Cássia como padroeira fundadora dessa comunidade no ano de 1959. Ela trouxe consigo o roteiro das celebrações e o hino em louvor a Santa Rita, aqui adaptado ao nome do lugar, Peri-Peri, alguns anos depois, Planalto, após emancipação como município, quando acolheu o Senhor do Bonfim como seu Padroeiro titular.
A primeira novena em devoção a Santa Rita foi então realizada no dia 22 de maio desse mesmo ano, como confirma o folheto informativo desse marco inicial da tradição religiosa e festiva em homenagem à Padroeira.
Na liderança dessa comunidade, sempre estava D. Mira, que se tornou uma pessoa de muita credibilidade no lugar por sua luta, fé e coragem para liderar qualquer movimento que viesse beneficiar principalmente a religiosidade do povo. Exemplo dessa dedicação de outras mulheres pode ser visto no próprio folheto da primeira festa, que indica a comissão de organização, composta por: Voldemira Gomes, Maria José Gomes Fonsêca, Neide Andrade, Almerinda Andrade e Maria Padre.
Foto: Google imagens

Durante a festa, destacavam-se também as crianças que se vestiam de anjos: Maria Helena Andrade, Zélia Pimentel, Vanda Fonseca, Rita Ferreira, Maria Eugênia Andrade, e de Santa Rita: Terezinha, Regina Célia. E meninos, que se vestiam de São Francisco: Cristino Pinho (Quito) e Robério Cunha.
As celebrações e novenas eram animadas por um grupo de mulheres que cantavam e eram denominadas “cantoras”. Entraram para a história dessa comunidade de fé as cantoras: Valdívia Alexandrina, Maria Guimarães (Vivinha), Nalva Antunes, Helena Alexandrina, Nolita Magalhães, Hildete Meira (D. Dete), Nailde Andrade, Marianina, Avani Ribeiro, D. Celina e muitos outros que ficavam à frente dos trabalhos.
Ao longo do tempo, a Festa de Santa Rita de Cássia tornou-se a mais tradicional comemoração da cidade de Planalto, celebrada no mês de maio, chegando a sua 56º edição, seguida pela celebração em honra ao Titular Senhor do Bonfim, comemorando 48 anos de celebração em outubro de 2017, mês de aniversário da Paróquia, como padroeiro titular. 

Hino de Santa Rita de Cássia (Planalto)


Cássia da Úmbria, lá na Itália
Foi pátria da ditosa Rita.
Ela é do céu Formosa dália,
que teve o nome Margarita.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto
De nossa cidade, feliz Planalto.

Éreis no curso da existência,
A Preferida do Senhor.
Que alcançou em prece e penitência,
ao cume do alto e santo amor.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto
De nossa cidade, feliz Planalto.

Só aspirando a perfeição,
Guiada pela eterna luz.
Foste fiel a devoção,
Aos sofrimentos, de Jesus.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto
De nossa cidade, feliz Planalto.

Com amor ardente pela vida
Marchaste firme e corajosa.
Sem antever que abraçaria,
vossa alma, vida religiosa.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto
De nossa cidade, feliz Planalto.

Andar quiseste no caminho,
da Cruz subiste o agreste monte,
e da Coroa um duro espinho,
Jesus Cravou na vossa fronte.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto
De nossa cidade, feliz Planalto.

Rogai por nós, ó Santa Rita
Para que venha a paz e o bem.
A paz na terra e o bem a dita,
de amar a Deus no céu, amém.

Afastai o mal, Santa Rita lá do alto

De nossa cidade, feliz Planalto.


Referências:

Revista "Em Estado Permanente de Missão", 2015, Bahia: Planalto.

ANEXOS

Decreto de criação da Paróquia Senhor do Bonfim e Santa Rita
Fonte: Revista Em Estado Permanente de Missão
     
1ª Festa em louvor a Santa Rita
Fonte: Revista Em Estado Permanente de Missão
   
Hino de Santa Rita adaptado
Fonte: Revista Em Estado Permanente de Missão


PADRES
Monsenhor Francisco Licarião
1969-1982
Pe. José Messias
1982-1985
Pe. Tobias Patriota
1985-1992
Pe. Gildeir Silva
1993-1998
Pe. Estevam Santos
1998-2001
Pe. Joselito Cruz
2001-2006
                
Pe. Josué Andrade
2006-2011
Pe. Irineu Meira
2012-2016
Pe. Mairton Marques
2016 até o momento

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