22/02/2017
Realizado para marcar os 10 anos da Conferência de
Aparecida (2017) e no contexto dos 500 anos da Reforma Protestante de 1517, o
6º Simpósio de Missiologia que acontece em Brasília (DF), conta com a
participação do pastor luterano Roberto Zwetsch, professor de teologia e
missiologia na Faculdades EST, em São Leopoldo (RS). O evento reúne ao longo
desta semana, dias 20 a 24, no Centro Cultural Missionário (CCM), cerca de 70
pessoas entre teólogos, missiólogos, pesquisadores, representantes de
instituições missionárias, agentes de pastoral de todo o Brasil.
“Forjar o anúncio da Boa Nova em um mundo em crise é o
grande desafio para quem, foi chamado a seguir Jesus”, afirmou Roberto Zwetsch
ao refletir sobre a missão em um contexto marcado por crise generalizada e
contradições. Nessa realidade, “nos sentimos pequenos demais, quase a ponto de
nos demitirmos da missão que nos foi dada, confiada e que não nos dá folga,
férias, dia de descanso”.
O teólogo recordou que o próprio Jesus não tinha
descanso. Precisava levantar de madrugada para procurar um lugar deserto, um
monte para falar com o Pai. E apontou a oração como “um dos maiores desafios
que enfrentamos, pois como escreveu Paulo, ‘não sabemos como orar como convém’.
Um dos problemas no ministério cristão contemporâneo que mais nos assusta é a
fraqueza da nossa espiritualidade. A vida é agitada demais, tudo nos parece
urgente, sempre estamos atrasados. Mas o mesmo Espírito intercede por nós”,
ponderou o pastor.
Além de numerosos artigos, Roberto Zwetsch escreveu ou
organizou diversos livros como: “Missão como com-paixão: por uma teologia da
missão em perspectiva latino-americana”; “Conviver; ensaios para uma teologia
intercultural latino-americana” e “Flor de maio”, uma coletânea de poesias.
Em sua avaliação, vivemos um momento histórico de
profunda crise em todos os sentidos: “humana, social, econômica, política,
cultural, ecológica. Trata-se de uma crise civilizatória”. E questionou: “para
onde caminha a humanidade? Que mundo estamos construindo para as novas
gerações?”
Segundo o pastor Zwetsch precisamos saber lidar com a
crise ou crises. “Aprender a reconhecê-las, não tapar o sol com a peneira, assumir
que as crises abalam a nossa vida, os nossos planos, as nossas instituições, as
nossas igrejas, o nosso país”.
O teólogo mostro as dimensões da crise plural que
vivemos. “Há uma crise mundial, que afeta a vida de todo o planeta. O sistema
mundial atual vive uma profunda crise, revelada drasticamente pela quebra do
sistema financeiro em 2008, crise que foi jogada para as costas dos povos,
enquanto seus governos socorriam os bancos e procuravam ‘salvar’ o sistema
financeiro”.
Em sua reflexão teológica, o pastor lembrou a dimensão da
crise constitutiva da fé cristã. “A cruz é a crise da vida cristã. Sem passar
pela cruz não temos Páscoa, ressurreição. E isto é difícil”, destacou.
Pastor Roberto recordou como a proposta de Gandhi chegou
ao Brasil e foi assumida nos anos de 1960 em diante por memoráveis bispos como
dom Helder Câmara, dom Antônio Fragoso e dom Paulo Evaristo Arns. “Escrevi um
artigo sobre o tema que foi publicado por uma revista da PUC/MG sobre a luta
contra a Ditadura Civil-Militar a partir da não-violência ativa, que entre nós
foi rebatizado como firmeza permanente”.
Ao retomar o tema da cruz, o teólogo afirmou que ela é a
crise das nossas igrejas, dos nossos planos de evangelização e missão, de toda
a vida cristã. “Quem evita a cruz deve se perguntar se compreendeu o que é
viver no seguimento de Cristo, como discípula ou discípulo de Jesus. Esta cruz,
porém, não se confunde com qualquer sofrimento”, sublinhou o teólogo.
Além de incentivar a reflexão o Simpósio marca os dez
anos da Conferência de Aparecida e lança luzes sobre o 4º Congresso Missionário
Nacional a ser realizado nos dias 7 a 10 de setembro de 2017, em Recife (PE),
com o tema “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”.
Ao retomar o Documento de Aparecida, pastor Roberto
Zwetsch reiterou que “a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se
instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do
sofrimento dos pobres do Continente” (n.363). A V Conferência do CELAM recordou
a necessitamos de “uma urgente renovação das nossas comunidades cristãs para
que se tornem centro de irradiação da vida nova em Cristo, o que seria como que
um novo Pentecoste”.
Pastor Roberto Zwetsch trouxe também o exemplo do teólogo
protestante alemão Jürgen Moltmann e sua teologia da esperança. Segundo
Zwetsch, essa teologia não saiu de um gabinete de estudos ou das aulas na
universidade, mas foi forjada na prisão da II Guerra Mundial, em meio a “um
sentimento de completa derrota e no confronto com o Cristo da cruz. Talvez por
isto tenha tido a repercussão que alcançou e fez desse teólogo um companheiro
da teologia da América Latina. É conhecida a história relatada por Jon Sobrino
sobre Ignacio Ellacuría morto em 1989 em sua casa em El Salvador. Quando ele foi
assassinado, junto com seus cinco companheiros jesuítas e as duas mulheres que
trabalhavam na casa, ao seu lado, manchado de sangue, foi encontrado o livro “El Dios crucificado”, de
J. Moltmann.
Em sua reflexão, pastor Zwetsch enfatizou que, no anúncio
do evangelho, o desafio é semear esperança num mundo desesperançado. Ele
considera a Exortação Evangelii Gaudium do papa Francisco e outros documentos
dele “como um bálsamo que renova as esperanças de um setor importante dessa
Igreja, sobretudo na América Latina e Caribe, que andava cabisbaixa na
caminhada missionária. Com o papa Francisco, a impressão que se tem é que houve
uma mudança radical de perspectiva e de ação” em que “o anúncio do evangelho é
a principal tarefa da igreja”, complementou.
A programação do Simpósio inclui exposições, debates e
grupos de estudo sobre o Texto-base do 4º Congresso Missionário Nacional.
Contempla também plenários, testemunhos missionários, apresentações de
iniciativas e publicações.
Fonte: POM
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