sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Gratidão, Planalto.

Gratidão é a Palavra que a Deus elevo, em forma de prece, por todos os benefícios que de sua benevolência tenho recebido, sem merecimento algum de minha parte, mas por puro dom e graça Dele. A Deus toda honra, toda glória, todo louvor e toda adoração. Que o Senhor do Bonfim, há pouco por nós festejado, na histórica festa de 2023, derrame as Suas bênçãos sobre o povo desta querida terra, Planalto, neste dia 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e de Nossa Senhora das Candeias, véspera do encerramento oficial da minha missão como Pároco.

Rita de Cássia, a Santa das Rosas e das Causas Impossíveis, por esse povo tão venerada e amada, certamente, ajudou que o impossível, ou pelo menos o muito improvável acontecesse: a vinda de um padre pernambucano, mais um, para nestas terras baianas exercer o múnus presbiteral. Algo tão inimaginável, só poderia ser fruto da Providência Divina. Rogo que nossa amada santinha, lá do alto, continue a afastar de nós todo o mal, para que seja sempre mais feliz nossa querida Planalto.

A vocês, amados paroquianos e paroquianas, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade desta terra, com os quais pude compartilhar a vida, por quase sete anos de trabalho, na missão evangelizadora, meus agradecimentos pela convivência, carinho, acolhida e atenção dispensada. Nas lutas diárias fomos aprendendo a nos conhecer, a conviver, a respeitar e a estabelecer laços de parceria, para que, na Igreja e na sociedade, fôssemos sal e luz, como nos pede nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 5, 13-14).

Tivemos momentos marcantes, inesquecíveis, que não cabe a mim agora listar. Resta-me, isto sim, agradecer aos amigos e amigas que a vida me trouxe. Em uma de suas inumeráveis canções, o Pe. Zezinho reza pelos amigos, quando diz: “Abençoa Senhor meus amigos, e minhas amigas e dá-lhes a paz. Aqueles a quem ajudei, que eu ajude ainda mais. Aqueles a quem magoei, que eu não magoe mais. Saibamos deixar um no outro uma saudade que faz bem.  Abençoa Senhor meus amigos e minhas amigas. Amém!” E continua “Luzes que brilham juntas, velas que juntas queimam no altar da esperança. Trilhos que juntos percorrem os mesmos dormentes e vão terminar no mesmo lugar. Aves que vão em bando, verso que segue verso nas rimas da vida. Barcos que singram os mares, até separados, mas sabem o porto onde vão se encontrar. São assim os amigos que a vida me deu, meus amigos e minhas amigas e eu! Gente que sonha junto, gente que brinca e briga e se zanga e perdoa. Um sentimento forte mais forte que a morte, nos faz ser amigos no riso e na dor. Vidas que fluem juntas, rios que não confluem, mas vão paralelos, aves que voam juntas e sabem que um dia, por força da vida não mais se verão. Resta apenas o sonho que a gente viveu, meus amigos e minhas amigas e eu!” (Oração por meus amigos – Pe. Zezinho).

Ingratidão não é uma atitude que devemos fazer uso em nossa vida, em nossas ações. Momentos de incompreensão ou de dificuldade? Bem... se os tive, apenas os tive. Não os levo, jamais os levaria, em meu coração. Aconselho que façam o mesmo. Ao invés de gastar tempo e energia com o que não constrói, só corrói e destrói, empenhemo-nos em construir uma Igreja missionária, pautada na comunhão e na participação. Igreja samaritana, acolhedora, como tanto nos inspira o Santo Padre, o Papa Francisco, ao dizer: “prefiro uma igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.

Deus abençoe e recompense aos que atuaram de forma mais próxima na missão e que tanto, tanto, tanto me ajudaram para que pudesse desempenhar a minha vocação. Minhas escusas pela proposital falta de nomes, mas aqui desejo lembrar e agradecer a todos eles:  Bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas, que nos mais diversos setores, comunidades, movimentos, pastorais, serviços, e ainda como funcionários, voluntários, dizimistas, lideranças ou não, de hoje e desses últimos tempos. Todos os que colaboram de forma mais próxima, assumindo com coragem, ousadia, doação e disponibilidade sua missão de batizados e batizadas. Por todas essas pessoas, louvado seja Deus!

Agradeço ainda aos que nesse período desempenharam suas funções como autoridades constituídas, nos poderes e serviços públicos, instituições e organismos da sociedade, quando, de diversas formas, pudemos estabelecer parcerias para melhor servir ao povo de Deus. Almejo que as autoridades, de hoje e de amanhã, olhem pelo povo com a consciência de que o lugar que ocupam, assim o fazem de forma efêmera e que o poder que atrai e fascina, é o mesmo que corrompe e destrói, caso não seja entendido como serviço, seja na igreja, sociedade ou política. Assim, façamos tudo com ética, respeito, dignidade, trabalho sério, dedicação e, sobretudo, tendo em vista aqueles e aquelas sem voz, sem vez, sem espaço, sem dignidade, cujos direitos lhes são roubados. Esses são os crucificados de hoje...

O que pude fazer, assim o fiz como humilde trabalhador da messe do Senhor, devo dizer: “sou um servo inútil, fiz apenas o que devia fazer” (Lc 17,10). Apenas colaborei, balizado por meus limites, defeitos, falhas e dificuldades, com uma história já há mais de 50 anos iniciada, sem falar, contudo, que antes da Paróquia ser instituída, a ação evangelizadora aqui já era realizada, sobretudo pelos cristãos leigos e leigas, nossos pioneiros na fé e na missão.

Poderia eu pensar que traria Jesus para cá. Ledo engano! Pois quando aqui cheguei, há muito Ele já estava. Antes de mim, muitos por aqui já haviam trilhado e semeado nesta terra a Palavra, como o semeador da parábola (cf. Mt 13, 4s). Quantas vezes colhemos frutos semeado por outros, mas, que de igual forma também pudemos semear, para que a colheita pudesse ser cada vez mais generosa e abundante em tempos vindouros.

Logo que aqui cheguei me encantei com uma comunidade fervorosa, orante e comprometida. Foi amor à primeira vista. E acredito que a recíproca foi e é verdadeira. Talvez por isso, embora não tenha faltado trabalho, em tantos lugares e atividades, a força que vem de Deus e do seu povo se fez comprovar, como diz o profeta: “Aqueles que confiam no Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para frente sem se fatigar” (Is 40,31).

A lição do serviço, com todos vocês, mais do que ensinar, aprendi, como Cristo que lavou os pés de seus Apóstolos e nos ensinou a fazer o mesmo (cf. Jo 13,15). Procurei servir sem distinção às ovelhas do rebanho que são do Senhor, e não propriedade minha, afim de que pudéssemos derrubar as barreiras do medo, do preconceito e da acepção de pessoas, do egoísmo e da intolerância, e tantas outras.  Ao contrário, trabalhamos para que fossem construídas pontes de respeito, de compreensão, de cooperação mútua e responsabilidade, para que ninguém se sentisse diminuído ou exaltado pela sua condição financeira, raça, espiritualidade, orientação político-partidária ou sexual. Basta de tanto ódio e intolerância.

Não imagino que fizemos tudo, ou que fiz tudo. Fizemos o que estava ao nosso alcance, mas se esta consciência me tranquiliza, a certeza de que muito mais tem a ser feito me inquieta. Dizia no fim de sua missão o grande São Francisco de Assis: “Irmãos, vamos recomeçar, porque até agora pouco ou nada fizemos”. O mesmo Santo de Assis, para que não nos desesperemos, nos ensina: “Se você quiser servir a Deus, faça poucas coisas, mas as faça bem”. Só não pare, não esmoreça, não desista, não se omita. O Senhor precisa de operários para a construção de sua Igreja, sempre em vias de edificação, mas ainda longe de ser concluída.

Agora entendemos a analogia de Nosso Senhor, quando disse que queria trazer fogo para esta terra, e como ele queria que já estivesse aceso (cf. Lc 12,49). Isso significa que é urgente a missão, o tempo é complexo e não podemos perdê-lo. Trabalhemos pelas vocações em nossa Igreja, vocações sacerdotais, religiosas, leigas e missionárias.

Lindas sãos as mãos e belos sãos os pés de quem se torna mensageiro do Senhor (Is 52,7). Como foi gratificante saber que trabalhamos como protagonistas da nossa vocação de batizados e batizadas, cada um ocupando, como membros de um corpo, o seu espaço, desempenhando o seu papel, convivendo democraticamente, não sem dificuldades, pois não somos uniformidade, mas sim pluralidade, como insiste tanto a Igreja nos dias atuais: Igreja Sinodal, que caminha junta, embora na diversidade.

Tenho a grata satisfação de olhar para tudo ao redor e agradecer ao Senhor pela missão cumprida, embora com as limitações humanas que fazem parte da vida. Seguindo a inspiração do Apóstolo Paulo, busquei VIVER EM CRISTO, “fazendo-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. (Fl 1,21/ 1 Cor 9,22).

Obrigado por tudo, por hoje e por sempre. Obrigado por existirem e fazerem parte de minha vida. Desejo toda felicidade e a abundância das bênçãos divinas a todos vocês e ao seu novo pároco, que em breve iniciará a missão. “Façam tudo por amor e para o amor” (São Francisco de Sales), pois onde há o amor e a caridade, Deus aí está: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei (cf.  Jo, 34). E que a todos acompanhe a doce e materna intercessão da Santíssima Virgem Maria.

02 de fevereiro de 2023, na Festa da Apresentação do Senhor.

Pe. Mairton Marques do Amaral Sales

Pároco 

P.S.: Concluo estas palavras de agradecimento na cidade de Juazeiro do Norte- CE, adaptando o discurso proferido por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Planaltense, no último domingo 29 de janeiro, na Igreja Matriz do Senhor do Bonfim de Planalto. Ressalto ainda que nessa cidade da Mãe de Deus, encontra-se um grupo de romeiros paroquianos de Planalto, e com eles desejei estar presente, uma vez que não pudemos nos ver nas despedidas ocorridas na Paróquia.

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