Meditação
do Papa Francisco para os presbíteros de Roma durante o encontro no início da
quaresma
2 de Março de 2017
Fonte: L'Osservatore Romano |
Uma longa e aprofundada
meditação sobre o «progresso da fé na vida do sacerdote» e uma publicação sobre
a importância do perdão: foram os dons que o Papa ofereceu ao clero de Roma no
final do tradicional encontro de início de quaresma, que teve lugar na manhã de
2 de março no Latrão.
Com efeito, ao sair da
basílica de São João os sacerdotes romanos encontraram o texto impresso com as
palavras há pouco proferidas pelo Pontífice e exemplares de um livro-entrevista
a Luis Dri, capuchinho nonagenário de Buenos Aires, intitulado: Não ter medo de
perdoar. O «confessor» do Papa narra-se. «Lê-se tão bem como um romance — disse
Francisco despedindo-se — mas é a verdade, e talvez nos ajude a crescer na fé».
Tendo chegado por volta das
11h, enquanto na catedral de Roma era celebrada a liturgia penitencial
presidida pelo bispo auxiliar D. Angelo De Donatis — encarregado do serviço
para a formação permanente dos sacerdotes — o Papa confessou uma dúzia de
pessoas presentes. Depois, pronunciou a sua metitação inspirando-se no pedido
dos discípulos, citado pelo evangelista Lucas, «Senhor, aumenta a nossa fé!»
(17, 5). Daqui derivou uma reflexão centrada em três pontos firmes: memória,
esperança e discernimento do momento. Porque «é sempre importante recordar a
promessa do Senhor que me pôs a caminho; a esperança indica-me o horizonte,
guia-me: e, no momento específico, em cada encruzilhada do caminho devo
discernir um bem concreto, o passo em frente no amor que posso dar e o modo
como o Senhor quer que eu o dê».
Recorrendo, como de costume
na sua pregação, a imagens da vida diária, Francisco disse que quando fala de
pontos firmes, pensa no «jogador de basquetebol, que crava o pé como um «pivô»
no chão... Para nós — esclareceu — aquele pé cravado no chão, no qual nos
apoiamos, é a cruz de Cristo». E recordou uma frase escrita no muro da capela
da casa de exercícios de San Miguel na capital argentina que retomava o lema de
São Bruno e dos cartuxos: «A Cruz está fixa, enquanto o mundo gira» (Stat crux
dum volvitur orbis).
Desenvolvendo sobretudo o
terceiro ponto, o do discernimento, o Papa ofereceu aos presentes o ícone de
Simão Pedro “passado pela peneira”, porque — comentou — exprime o «paradoxo
pelo qual aquele que nos deve confirmar na fé é o mesmo que o Senhor repreende
muitas vezes pela sua “pouca fé”».
Nesta ótica o Pontífice
observou que Deus geralmente indica «como exemplos de grande fé outras
pessoas», até as mais «simples» — a referência é ao centurião e à mulher
sírio-fenícia — «enquanto repreende com frequência os discípulos e em
particular Simão Pedro por causa da sua “pouca fé”». Mas, observou o Papa, a fé
de Simão Pedro «progride e aumenta na tensão» dos seus dois nomes: Simão,
aquele «com o qual Jesus o chama quando falam e conversam como amigos»; e
Pedro, aquele «com o qual o Senhor o apresenta, justifica e defende,
salientando-o de maneira singular como seu homem de confiança total diante dos
outros». Também porque «ter dois nomes o descentra» e o ícone desta
descentralizaçãoé quando Pedro «pede a Jesus que o mande ir ter com Ele,
caminhando sobre a água». Com efeito, afirmou o Pontífice, ela reflete por um
lado a consciência do apóstolo de ter «pouca fé» e, por outro, «a sua humildade
de se deixar ajudar por quem sabe e pode fazê-lo».
Depois, o Pontífice convidou
a meditar sobre as tentações que estão sempre presentes na vida de Pedro e dos
ministros de Cristo. «Pedro cometeu o pior dos pecados — frisou Francisco — e
contudo elegeram-no Papa». Por isso, «é importante que o sacerdote saiba
inserir as suas tentações e os seus pecados» na oração «para que a fé não
desfaleça, mas amadureça e por sua vez sirva para fortalecer a fé de quantos
nos foram confiados. Apraz-me repetir — confidenciou — que um sacerdote ou um
bispo que não se sente pecador, que não se confessa, fecha-se em si mesmo e não
progride na fé». O Pontífice quis concluir a sua reflexão evocando a
experiência concreta feita por um jovem na comunidade de recuperação do padre
Pepe em Buenos Aires. Por fim, o cardeal vigário Agostino Vallini agradeceu ao
Pontífice em nome de todos os presentes.
Fonte: L'Osservatore Romano
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