Fonte: L'Osservatore Romano |
«Para entender uma mulher é
necessário antes sonhá-la»: eis por que a mulher é «o grande dom de Deus»,
capaz de «trazer harmonia à criação».
A ponto que, confidenciou o Papa
Francisco com um toque de ternura poética, «gosto de pensar que Deus criou a
mulher para que todos nós tivéssemos uma mãe». Foi um verdadeiro hino às
mulheres o que o Pontífice propôs na missa celebrada na manhã de quinta-feira,
9 de fevereiro, na capela da Casa Santa Marta. É a mulher, reconheceu
Francisco, «que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo
uma coisa bela». E se «explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade,
explorar uma mulher é mais do que um delito e de um crime: significa destruir a
harmonia que Deus quis dar ao mundo, é voltar para trás».
Para a sua meditação,
Francisco inspirou-se nas leituras hodiernas, tiradas do livro da Génesis (2,
18-25) e do Evangelho de Marcos (7, 24-30). A liturgia «continua a narração da
criação do mundo» disse imediatamente o Papa, realçando inclusive que «com a
criação do homem parece que tudo terminou», a ponto que «Deus repousa».
Contudo, «falta algo: o homem estava sozinho» e daquela «solidão o próprio Deus
se deu conta: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar
semelhante a ele» lê-se no livro de Génesis.
Então, «o Senhor
artesanalmente – mas esta é uma forma literária para o explicar – «formou da
terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até
junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria”» afirmou o Papa
relendo o trecho evangélico. E «Deus disse» ao homem: «esta será a tua
companhia, dá-lhe um nome». Para Deus, prosseguiu Francisco, «esta é uma ordem
do demónio». Na prática diz ao homem: «Tu serás o dono destes, aquele que põe o
nome, aquele que manda”». Mas «para o homem não encontrou uma auxiliar
adequada» lê-se no livro do Génesis. Assim «o homem estava sozinho, com todos
estes animais: “Mas, ouve lá, porque não arranjas um cão, fiel, que te
acompanhe na vida, e também dois gatos para os acariciar: o cão fiel é bom, os
gatos são engraçados, para alguns, para outros não, para os ratos não!».
Todavia, o homem «não encontrava nestes animais uma companhia» e, em síntese,
«estava sozinho».
Francisco prosseguiu
repropondo ponto por ponto o trecho do Génesis: «Então o Senhor – continua a
narração – “adormeceu profundamente o homem”: fez com que dormisse. Um homem
sozinho, a solidão, agora o homem está adormecido, o sonho do homem:
adormeceu». E «artesanalmente – está escrito à letra – enquanto ele dormia,
tirou-lhe uma das suas costelas e fez uma mulher, e levou-a para junto do
homem”. O homem, quando a viu, disse: ““Eis agora aqui, o osso de meus ossos e
a carne de minha carne; ela se chamará mulher – atribuiu-lhe um nome – porque
foi tirada do homem”». Em síntese, afirmou Francisco, para o homem «é algo
diferente de tudo o que ele tinha, era o que lhe faltava para não estar
sozinho: a mulher, descobriu-a, viu-a». Mas «antes de a ver, sonhou com ela».
Com efeito, disse o Papa, «para entender uma mulher é necessário antes sonhá-la;
não é possível compreendê-la como todos os outros seres vivos: é algo
diferente, é algo diverso». Precisamente «assim Deus a fez: para ser sonhada,
antes».
Muitas vezes – observou o
Pontífice – quando falamos das mulheres, falamos de maneira funcional: a mulher
serve para fazer isto, para fazer, não! Primeiro, é para outra coisa: a mulher
traz algo sem a qual o mundo não seria assim». A mulher «é algo diferente, é
algo que traz uma riqueza que o homem, toda a criação e todos os animais não
têm». Também «Adão, antes de a ver, sonhou com ela: há algo de poesia, nesta
narração». E «depois o terceiro trecho, quando Adão diz “Eis agora aqui o osso
de meus ossos e a carne de minha carne”: o destino de ambos». Com efeito, lê-se
no Génesis: «Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua
mulher; e já não são mais que uma só carne». Sim, «uma só carne».
«Adão – afirmou ainda
Francisco – não podia ser uma só carne com as aves, com o cão, com o gato, com
todos os animais, com toda a criação: não, não! Só com a mulher, e isto é o
destino, isto é o futuro, isto é o que faltava». E «a mulher vem assim a coroar
a criação, mais ainda: traz harmonia à criação». Por conseguinte, «quando não
há a mulher, falta a harmonia». Também «nós dizemos, falando: esta é uma
sociedade com uma forte atitude masculina. Falta a mulher». E talvez afirmemos
inclusive que «a mulher serve para lavar os pratos, para fazer...». Ao
contrário, «não: a mulher serve para trazer harmonia; sem a mulher não há
harmonia». O homem e a mulher «não são iguais, um não é superior ao outro, não.
É simplesmente que o homem não traz harmonia: é ela que traz aquela harmonia
que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa
bonita».
Portanto, «três trechos»
relançou o Pontífice. Em primeiro lugar, «o homem sozinho, a solidão do homem
sem a mulher; segundo, o sonho: nunca se pode entender uma mulher sem a sonhar
antes; terceiro, o destino: uma só carne».
«Aconteceu-me há alguns
meses – confidenciou Francisco – numa das audiências, ao saudar as pessoas que
se encontravam atrás das barreiras, ter encontrado um casal de noivos que
celebrava o sexagésimo aniversário de matrimónio: não eram muito idosos porque
se tinham casado ainda jovens, deveriam ter cerca de oitenta anos, mas estavam
bem, sorridentes». Ao vê-los o Papa perguntou-lhes – porque, sorriu, «pergunto
sempre alguma coisa, brincando, às pessoas que fazem aniversário de matrimónio»
– qual dos dois teve «mais paciência» ao longo dos sessenta anos de casamento.
E «eles que olhavam para mim, trocaram os olhares – nunca esquecerei aqueles
olhos – depois voltaram a olhar para mim e disseram-me, os dois juntos:
“Estamos apaixonados”». Eis, acrescentou Francisco, «depois de sessenta anos,
isto significa uma só carne e é isto que traz a mulher: a capacidade de se
apaixonar. A harmonia ao mundo».
«Muitas vezes – reconheceu o
Papa – ouvimos dizer: “É necessário que nesta sociedade, nesta instituição,
haja uma mulher para que faça isto, faça estas coisas”». Mas «a funcionalidade
não é a finalidade da mulher: é verdade que a mulher deve fazer coisas e faz –
como todos nós fazemos – coisas». Porém, «a finalidade da mulher é criar
harmonia e sem a mulher não há harmonia no mundo». Sim, insistiu o Pontífice,
«explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade, é verdade, mas explorar uma
mulher é mais do que isso: significa destruir a harmonia que Deus quis
proporcionar ao mundo». Significa realmente «destruir, não é apenas um delito,
um crime: é uma destruição, significa voltar para trás, destruir a harmonia”».
«É este o grande dom de
Deus: deu-nos a mulher» afirmou o Pontífice. E no trecho do Evangelho de
Marcos, proposto hoje na liturgia, «ouvimos do que é capaz uma mulher» realçou
Francisco, referindo-se à mulher cuja filha estava possuída por um espírito
impuro. Uma mulher «corajosa» que «foi em frente sem recear, mas é mais do que
isso, é mais: a mulher é harmonia, é poesia, é beleza». A ponto que «sem ela o
mundo não seria tão bonito, não seria harmónico».
Missa em Santa Marta,
9 de Fevereiro de 2017
Fonte: L'Osservatore Romano
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